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Um ano de mudanças: moradores do instituto JNG compartilham dores e delícias de novo momento da vida adulta

Novos hábitos foram tema de mesa redonda que abriu o seminário para compartilhar resultados de um ano de moradia independente

Rio de Janeiro, dezembro de 2022. Dizem que quando compartilhamos um problema com amigos, esse problema pode se tornar bem menor do que parece. O mesmo pode valer para grandes mudanças. Às vésperas de eventos decisivos para nossas vidas, o que pode ser melhor do que a palavra certa para nos dar aquele empurrãozinho final? 

Juliana Bolshaw, a Juju, lembra bem da véspera do dia em que se mudaria de casa. “Deu vontade de desistir, mas minha mãe e minha irmã disseram para experimentar”, e assim foi feito. Juju resolveu experimentar ter um lar para chamar de seu. Hoje, pouco mais de um ano depois, o sorriso estampado no rosto não esconde: tem valido muito a pena. 

Em clima de descontração, a pedagoga e doutora Ana Paula Pacheco recebeu os moradores do Instituto JNG e mediou a mesa redonda que abriu o seminário em comemoração ao primeiro ano da moradia independente. Realizado em 1º de dezembro, o debate aconteceu na FACHA e contou com a presença de especialistas e dos já conhecidos Daniel, Duds (Eduardo), Manu (Manuela), Nico (Nicolas) e Pedro.

“Habitar-se é aprender a habitar dentro de si.” É de forma poética que Pedro gosta de pensar sobre a ideia de casa. Durante a mesa redonda, ele dividiu com colegas que a coragem emanada pela família foi uma das principais motivações para que buscasse essa outra forma de morar dentro de si mesmo e deixasse a casa onde vivia com a mãe. 

“Além de saber que, uma hora, tinha que me impulsionar para que pudesse administrar a própria vida.” E quem pensa que sair de casa é romper com laços familiares, está enganado. Entre os novos hobbies, Pedro mantém antigos hábitos: dorme na avó em alguns dias da semana, janta com a mãe de vez em quando juntos, viaja com a família, sempre se falam. 

Próximo ao litoral carioca, os arredores do prédio da Uliving têm sido um prato cheio para Daniel desbravar. Fã de parques, o jovem acredita que o lazer tem sido um campo pessoal que vem sendo cada vez mais explorado. “A qualidade de vida melhorou, tenho mais autoconfiança, tenho mais liberdade aqui”, celebra. Caminho que não foi simples e ainda é constantemente percorrido. 

Daniel também compartilhou com o grupo que, por muitas vezes, se sentia inseguro e tímido, mas que, aos poucos, contando com a base de apoio do Instituto JNG, vem conseguindo se sentir mais confiante para realizar as atividades diárias. 

Equilibrar os limites da responsabilidade e da liberdade para definir e administrar a própria rotina é um dos desafios que contam com o suporte dos agentes de apoio, que se revezam no plantão 24h dia, 7 dias da semana. Quando os moradores querem, ou precisam sair, é necessário cumprir protocolos e avisar à equipe de apoio a que horas pretendem voltar. “No início, esqueci de avisar a eles (funcionários da base de apoio) a que horas eu voltaria da rua, mas hoje isso não acontece mais”, diverte-se Duds.    

Este novo momento da vida inclui lidar com novas tarefas domésticas, antes feitas por membros do núcleo familiar. Nos últimos meses, Nico passou a se envolver com o preparo das refeições que faz, com a louça e em retirar o lixo de casa. Ações que são parte do sonho que tinha de “sempre querer morar sozinho”.

Os afazeres podem ser divididos em duas categorias, como destacou Manu. Arrumar a cama, lavar a louça e o banheiro estão na seção de “tarefas pequenas”, como ela classifica. Já preparar a própria comida está na parte das “tarefas grandes”. 

Aprendizados que vão surgindo de forma natural, conforme os eventos vão surgindo. “No início, minha mãe mandava marmita, mas um dia a marmita não veio: tive que aprender a cozinhar”, completou Juju. Para o futuro próximo, ela já está de olho em aprender mais. E a primeira atividade da listinha ela já sabe qual é: aprender a passar roupas.

Desafios da moradia independente

Sair da casa dos pais para morar sozinho ainda é uma realidade distante para as pessoas com deficiência. Projeto pioneiro no Brasil, a Moradia Independente do Instituto JNG, vem se confirmando como uma alternativa promissora para que adultos com deficiência intelectual e autismo possam desfrutar desta experiência de construção da independência e autonomia. A iniciativa é sediada no prédio de residência estudantil da Uliving, no bairro do Flamengo, zona sul do Rio de Janeiro. No local, sete moradores contam com suporte individualizado de uma equipe de profissionais 24 horas por dia, sete dias por semana, que monitoram suas rotinas e os apoiam nas diferentes necessidades de seu dia a dia. 

Para debater os aprendizados, ganhos e desafios do primeiro ano de funcionamento do projeto, o Instituto realizou, na semana do Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, o “Simpósio Resultados da Moradia Independente”. O evento aconteceu durante um dia inteiro, no auditório das Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), no Rio de Janeiro, e pode ser assistido na íntegra no canal do YouTube do JNG

O evento apresentou os resultados do modelo pioneiro de Moradia Independente do JNG visando mobilizar a sociedade para debater sobre vida adulta de pessoas com deficiência ou autismo: profissionais da educação e saúde, professores e pesquisadores universitários, membros do Poder Público e do mercado imobiliário, investidores e, claro, adultos com deficiência e suas famílias. A abertura do Simpósio teve a participação especial do Dr. Carlos Gadia, diretor associado do Dan Marino Center do Miami Children’s Hospital, centro de referência em autismo nos Estados Unidos.

“Queremos que os especialistas da área de saúde percebam o modelo JNG como uma opção para seus pacientes, clientes e alunos. Queremos que arquitetos e urbanistas conheçam nossa experiência para que se mobilizem a pensar na inclusão de pessoas com deficiência e/ou autismo desde a concepção do projeto”, destaca Flavia Poppe, diretora e co-fundadora do Instituto JNG. “E, finalmente, desejamos que as famílias entendam que, por mais difícil que seja, é preciso deixar nossos filhos alçarem voo, mesmo que eles precisem de algum tipo de apoio – e que a moradia independente é uma solução.”

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