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Costa Rica e a natureza que acolhe tudo

Lucien, meu marido, foi transferido para San Jose, Costa Rica, em maio de 1992. Eu deixei meu trabalho no Ministério da Saúde e embarcamos juntos com nossos filhos: Camilo, de três anos, e Nico, com apenas 8 meses. Tivemos a sorte de vivenciar os primeiros sinais do desenvolvimento atípico de Nico nesse país de “pura vida”. Para chegar ao Atlântico ou Pacífico, enfrentávamos estradas esburacadas e cheias de curvas. Mesmo assim, sempre que possível, seguíamos rumo ao paraíso de praias como Manuel Antonio, Punta Leona, Punta Uva, e Guanacaste. Nessas viagens, aprendi a lidar com os vários tipos de enjoos das crianças e, apesar dos contratempos, sempre valia a pena.

Estar na natureza era um refúgio. Com um filho pequeno que ainda não falava, mas apenas gritava e chorava, a imensidão da natureza nos acolhia e trazia uma sensação de alívio e liberdade. Nico sempre ficava mais tranquilo no final da tarde, mais atento, aberto para conhecer coisas novas e se expressar. Vimos muitos pores do sol deslumbrantes, com o mar dourado contrastando com as areias escuras e os tons azulados do céu mudando com o cair da noite. Nessa hora, mesmo sem saber andar, Nico se arrastava, empurrando o bumbum até chegar às ondinhas que quebravam na areia. Ele adorava! Quando uma onda mais forte o derrubava, eu o pegava, ria, beijava, e o colocava de volta – como uma tartaruguinha voltando ao mar.

Em uma manhã na praia de Manuel Antonio, acordamos cedo e, antes de atravessar um rio de cerca de 100 metros, encontramos um senhor vendendo abacaxi descascado na hora. O sabor era indescritível: doce como mel, suculento, escorrendo pelas mãos… Era o início de um dia perfeito. A trilha que nos levava a parte mais tranquila da praia era magnífica, sombreada e cercada de uma vegetação tropical exuberante. Cruzávamos com iguanas (que me pareciam mini crocodilos), macacos, pássaros de várias espécies, e as cores vibrantes do verde ainda úmido do orvalho. Repetimos esse programa durante os quatro anos que vivemos por lá, até o Nico também conseguir atravessar o rio a pé. A natureza nos envolvia em sua paz, a vegetação tropical úmida com milhares de tons de verdes que brilhavam quando ainda guardavam o orvalho da noite. Era tudo muito bonito.

Foi nesse cenário que percebi que a melhor “intervenção” para meu filho com desenvolvimento atípico era a própria natureza – sua beleza, amplitude e silêncio. Ele continuava se comunicando com seus gritos – “berrinches” foi a primeira palavra que aprendi em espanhol – mas nossa família se nutria daquela tranquilidade, o que nos dava forças. Mais tarde, aprendi sobre o “manejo de crises”, algo necessário à medida que Nico crescia. A natureza não cura, mas acolhe. Essa experiência na Costa Rica me ensinou a reconhecer, a lidar e a dosar com o estresse natural da vida cotidiana. 

Até hoje, procuro sempre uma árvore florida no meio do trânsito, um pouco de cor e tranquilidade no caos da cidade, um contraste atraente. Sim, existem muitos dias nublados, tristes, cheios de angústia, mas tudo passa. Até mesmo a Costa Rica.

* Fotos de domínio público

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