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Deixe-o Viver: Lições de Autonomia e Amor em Goyo

Foto promocional da Netflix

Por Flavia Poppe

Mais uma vez o cinema argentino expressa de forma inteligente e sensível uma temática muito delicada. Vale muito a pena assistir ao filme Goyo, apelido de Gregório, um jovem com uma das formas “leves” do autismo — a Síndrome de Asperger. A história gira em torno da atração de Goyo por uma funcionária do museu onde trabalha e os desafios que ele enfrenta para lidar com tantas novas emoções. Ele vive com seus irmãos, Saula e Matute, que o aconselham, cada um a seu modo, a  enfrentar as complexidades do amor e das emoções. A mãe de Goyo, Magda, durante a maior parte do filme é uma personagem pouco importante, a não ser pelo fato de sabermos que mora longe, na Terra do Fogo, com outro marido.

A irmã Saula faz o clássico papel de protetora e acredita que impedir situações da vida que possam colocar em risco o bem estar de Goyo é seu principal dever. “Te amo e me preocupo, diz ela. Existe frase mais legítima numa relação de ‘cuidado’ com pessoas com algum tipo de deficiência? Por outro lado, Matute nos lembra que “Ele já não é criança, deixa ele viver”. Esta frase ecoa em nossos corações, pois nos convida a confiar que todos, mesmo com suas particularidades, também podem trilhar seus próprios caminhos, aprender com seus erros e crescer com suas conquistas.

Nessa tensão, Goyo vai além dos seus limites, vive novas experiências que implicam em mais riscos e aprende sobre o equilíbrio entre riscos e conquistas. Nem tudo sai bem. Goyo tem uma crise e se desorganiza seriamente com o enfrentamento de sua condição de autista. Então aparece Magda, a mãe de Goyo, interpretada pela renomada atriz Celina Roth, que tem um papel fundamental nessa jornada. Mesmo se sentindo nitidamente uma pessoa fora do contexto da convivência entre os irmãos, ela entra pelas frestas e toca temas muito sensíveis da relação entre mãe e filhos com deficiência. É ela que aceita o romance do filho e explica a função das musas na vida do artista, reconhecendo-o como um expert em artes.

Magda ressignifica a visão crítica que os irmãos têm sobre ela a respeito da sua atitude de ‘abandonar’ Goyo por sentimentos de dor, ao mesmo tempo que reconhece a própria incapacidade de se conectar com seu filho autista, criando um espaço de reflexão sobre a subjetividade das situações vividas nas famílias que enfrentam a realidade da deficiência intelectual, mental e comportamental.

“É muito difícil para mim, tenho que aprender para entender”.

Assistir a Goyo é um convite para refletir — estamos permitindo que nossos filhos/irmãos vivam plenamente suas vidas? Estamos preparados para apoiá-los, mesmo quando isso significa deixá-los correr alguns riscos? É natural querer proteger nossos filhos, impedir que se machuquem. Mas será que essa proteção não os priva de viver experiências essenciais?Até onde devemos ir para protegê-los? Esse filme é um lembrete de que a autonomia e a independência são essenciais para o amadurecimento e crescimento, tanto deles quanto nosso, como mães.

Goyo está disponível na Netflix: clique aqui para assistir o trailer

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