Desafiando o sistema: por que jovens com deficiência não podem ter um horizonte de amadurecimento e crescimento como todos os outros?
Publicado em: 04/11/2024 | Por: Flávia Poppe | Jornada da Flavia
A resposta imediata à essa pergunta é simples – sim, jovens e adultos com deficiência podem ter a vida que desejarem. A vida é vasta, com dimensões desconhecidas e inexploradas, e ninguém pode afirmar com certeza qual é o melhor caminho, ou a melhor e mais correta forma de viver. Cada pessoa percorre sua própria trajetória. São infinitos caminhos e experiências que cumprem um ciclo, o qual cada pessoa precisa lidar da melhor maneira que pode ou consegue. Não existe condição que impeça um ser humano de viver plenamente, a não ser a própria morte.
Aprender com a vida é um processo lento e, no meu caso, implica em ir e voltar nas vivências, revisitar experiências e histórias, procurando sempre refletir. Pensar é libertador. Pensar inspira e nos permite fazer descobertas constantes porque o pensamento é a vida em movimento. Pensar é, na prática, uma pesquisa viva e interminável porque o objeto estudado é você mesma e o que você faz com sua vida e a dos outros que interagem com você. É sobre o impacto das nossas escolhas. Por isso, o processo de encontrar sentido nos caminhos escolhidos é lento, não acontece da noite para o dia. É assim que deve ser. Vai com fé, pois a paciência faz parte desse processo de reconhecimento, até que possamos ver claramente que nossas decisões e conexões dão sentido às nossas vidas.
Eu lembro que desde criança eu intercalava momentos de contemplação com muita agitação e travessuras, um jogo entre pensar e inventar, por vezes desafiar. Na adolescência, eu me refugiei nos estudos e no esporte para dar conta da minha energia. Mais tarde, com o casamento e o nascimento dos meus filhos, a vida deu várias reviravoltas, pois meus passos se entrelaçaram com os de Lucien, Camilo e Nico. Tudo ficou mais dinâmico e cheio de vida.
O Nico nos mostrou novos caminhos. Eram rotas incertas, completamente desconhecidas para nós. Mas, sempre fiel à vida, eu só conseguia agradecer por essa aventura. O trajeto? Repleto de emoções, de altos e baixos. Será que ele vai conseguir andar de bicicleta? Vai nadar? Vai aprender a ler? Vai conseguir cuidar de si mesmo? Vai andar pelas ruas sem se perder? Vai reconhecer os perigos? Terá amigos? Poderá viver sem minha presença constante? Tantas perguntas surgiram, criando angústia, mas também gerando movimentos para buscar os melhores caminhos, os mais acessíveis.
E então, Nico se tornou adulto. Nesse percurso, acumulei uma bagagem rica, sempre guiada por observar, pensar, pesquisar e agir, num movimento contínuo que nada mais é do que viver. E ficou claro para mim que, mesmo com as limitações, era óbvio, para mim, que o Nico tinha e tem o seu próprio horizonte de vida. Quem ainda não entende essa potência é a sociedade. Paciência, seguimos confiando e demonstrando que o Nico, como qualquer outra pessoa, pode traçar seus próprios caminhos, fazer suas próprias escolhas e desenvolver sua autonomia. É claro, ninguém sabe exatamente onde esses caminhos vão nos levar.
O importante é seguir confiando, sabendo que a jornada, o trajeto, é dele — e isso, por si só, já é motivo de orgulho.