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Entre Diagnósticos e Esperanças: nunca se sabe até onde é possível chegar

O que pode ser mais difícil? Conhecer muito pouco sobre autismo (lembrando que estávamos no início da década de 1990) ou, como é atualmente, onde todo mundo fala de autismo e aceitar o fato de que a cada 36 pessoas pelo menos uma delas é autista

Por causa do trabalho do Lucien, meu marido, fomos morar na Costa Rica. Era julho de 1992 e Nico tinha menos de um ano de idade. Ele não sentava ainda e chorava muito, mas muito mesmo. Depois de nos instalarmos (depois de um grande esforço), comecei a peregrinação no sistema de saúde local em busca de um bom pediatra. Passei por vários profissionais que achavam que eu estava ansiosa, que era uma mãe angustiada, que deveria tomar neurolépticos e que deveria deixar meu filho chorar sozinho porque era birra de criança. O Nico não chorava, ele se esgoelava. Não era um choro normal. Aquilo me desesperava. Eu não estava entendendo nada! O que era aquilo? Pouco a pouco o “llanto” e os “berrinches”, como nomeavam em espanhol, foram se somando a tapas, puxões de cabelo e pancadas em absolutamente tudo que o Nico via pela frente. E, em geral, EU.

Porém, finalmente, achei um pediatra que me escutou, o Dr Kitzing. Ufa, que alívio! Ele nos encaminhou para uma avaliação com a Dra Zulma Campos, uma especialista em desenvolvimento de crianças. Ao longo de dois dias, ela aplicou uma batelada de testes para, ao final, concluir que o atraso do Nico, nas escalas de desenvolvimento de crianças, era de 51%. Meu mundo caiu. Perguntei a ela: esse nível de atraso vai se manter ao longo da vida dele ou, com o tempo e terapias de estimulação ele poderá recuperar esse atraso?

Felizmente, ela não respondeu o que eu temia. Disse, com muita sinceridade, que nunca se sabe até onde é possível chegar

Vocês não fazem ideia o quanto eu agradeço à Dra Zulma Campos por ter me deixado livre dos fantasmas e dos medos, livre para tentar construir um caminho alternativo com meu filho, livre para não ficar lendo sobre as limitações e barreiras pois cada passo leva a outro, e assim por diante. E dessa forma, vamos vivendo as nossas vidas. E na última página do relatório havia uma única pergunta escrita à mão: “É autismo?” Ela nos indicou para um psiquiatra de San José. E eu não fui.

Vinte anos depois, eu olhei para o Nico e reconheci nele ainda muitas das limitações sinalizadas na escala da Dra Zulma. Pensei nela e agradeci não ter antecipado o futuro. Percebi que mesmo os meus maiores temores naquela época não tinham pressa de acontecer. Era com suavidade, no dia a dia, tecendo os fatos pouco a pouco, como podíamos, e se abrindo sempre para horizontes mais amplos e a todo tipo e formas de viver, com ou sem deficiência.

A vida nova do Nico

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