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De Estranho ao Essencial: a beleza da maternidade e suas surpresas

A primeira etapa da minha história a partir do nascimento dos filhos talvez pudesse ser resumida pela palavra estranheza. Estranho no sentido mais amplo, no sentido de desconhecido, diferente do que havia vivido até então. Sentir-me estranha ou estar diante de algo estranho, tem, para mim, um significado mais positivo do que negativo.

Meu primeiro filho causou uma explosão de novos sentimentos em mim, formou correntezas nos meus pensamentos, que sempre disputam corrida com o meu coração e minhas intuições. Eu tinha 27 anos, um diploma de mestrado numa das melhores universidades do mundo, trabalhava na ONU e vislumbrava uma bela carreira. Terminada a gestação do Camilo, que eu curti demais, os meses que se seguiram foram em outra órbita, outro universo, outra perspectiva e importância de viver. Pra começar, aprendi os possíveis sentidos da palavra medo. A ciranda peito, cocô, xixi, cólicas, banho, fazê-lo dormir para eu abrir espaço pro meu descanso, foi frenética, e depois de 8 meses eu estava nocauteada.

Com todo esse hiper realismo em que minha vida ficou imersa, eu reparava que meu marido (muito participativo e parceiro) continuava frequentando a órbita que eu havia deixado. Foi muito estranha essa sensação tão óbvia. Era como era, mas eu estranhava, sentia falta dele, sentia-me sozinha, por mais que ele estivesse ao meu lado. A frase do escritor francês Marcel Pagnol que falava sobre seu nascimento me deu um lampejo: “eu tenho a mesma idade que minha mãe e vinte e cinco anos de diferença com meu pai”. 

Percebem que não falei sobre deficiência? É muito importante reconhecer a grandeza das emoções que a vida nos oferece para se familiarizar com as estranhezas e praticar os atos de observar, aprender, escutar, analisar. Com essas ferramentas, fica mais fácil desenvolver flexibilidade para lidar com todas as estranhezas. Nico, meu segundo filho, me levou nas profundezas abissais ao começar sua vida fazendo tudo diferente da minha primeira experiência. Custou pegar o peito… por que? Tinha os olhos grandes e olhava fixo, um convite a uma conexão um pouco diferente, um llanto muito forte (como morávamos na Costa Rica assim nomeavam e sinto melhor essa palavra do que “choro”). Teve um furúnculo perianal aos dois meses e observei que não reclamava de dor. Não girou no berço, demorou para sentar, engatinhar, andar… e tantas outras estranhezas. É o estranho mais amoroso, charmoso, amigo, parceiro que alguém pode querer por perto.

Filhos, muito obrigada por terem contribuído para meus passeios e devaneios em diferentes órbitas.

Álbum do Casamento do Camilo

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